Pesquisa online do Unaids Brasil com pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA) no Brasil revela que 87% delas estão em casa, em distanciamento social. Respondida por 2.893 PVHA entre 27 e 31 de março, a pesquisa teve por objetivo levantar informações sobre o impacto da pandemia da Covid-19 na comunidade de PVHA, bem como sobre suas demandas de saúde neste período.

O instrumento utilizado foi um questionário adaptado a partir da experiência do escritório do Unaids China. Divulgada pelas mídias sociais do Unaids, a pesquisa contou com o apoio da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+BRASIL) e Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas (MNCP), que também colaboraram na revisão da adaptação do instrumento.

Resultados
Entre as PVHA respondentes, 84,2% são do sexo masculino, 15,2% do sexo feminino, 0,2% afirmaram-se “não binárias” e 0,3% preferiram não responder.

Segundo a população-chave [para o controle da epidemia], 79,6% estão entre gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), 17,4% responderam não pertencer a nenhuma população-chave, 2,1% são pessoas transexuais, 0,6% estão entre trabalhadores [e trabalhadoras] comerciais do sexo e 0,4% são pessoas usuárias de drogas.

A raça-cor das PVHA respondentes é formada por 45,6% de pessoas brancas, 36,2% são pardas, 15,1% são pretas, 1,6% amarelas, 0,9% preferiram não responder e 0,6% são indígenas.

As faixas etárias das PVHA respondentes tiveram mais respostas entre aquelas que têm entre 25 a 29 anos (27,2%), seguida daquelas que estão entre os 30 a 34 anos (20,5%), seguidas das que estão entre os 20 a 24 anos, com 16,5% e as que estão entre os 35 a 39 anos, com 12%. Todas as outras faixas etárias tiveram menos de 10% de PVHA respondentes.

Informação e prevenção
PVHA da região sudeste disseram ter mais acesso à informação e aos insumos de prevenção durante a Covid-19, com 52% das respondentes. Elas foram seguidas pelas PVHA da região nordeste (23%), da região sul (11%), da região centro-oeste (8%) e 6% da região norte.

As PVHA obtêm suas principais informações sobre a Covid-19 pela televisão (40%), por sites e redes sociais do Ministério da Saúde (24%) e por serviços e/ou profissionais de saúde (11%). Grupos de WhatsApp (7%), amigos e/ou familiares (6%), sites e redes sociais do Unaids (4%), redes e movimentos de PVHA (3%), organizações não-governamentais (2%) e outros veículos de imprensa, redes sociais diversas e outros obtiveram 1% de respostas, em cada um destes itens.

No quesito qualidade da informação para autoavaliação de risco à infecção pelo SARS-COV-2 para tomar as medidas de prevenção necessárias, 50% das PVHA respondentes consideram-na mais do que suficiente, 46% consideram insuficientes e 4% preferiram não responder.

Sobre que tipos de informação que a PVHA respondente mais gostaria e receber, 65% apontaram a alternativa “dicas e cuidados específicos para PVHA”, 24,1% querem saber sobre o estado da epidemia em sua própria cidade, 5,9% querem informações sobre métodos de prevenção da Covid-19 e 3,8% sobre as formas de transmissão do SARS-COV-2; 0,8% apontaram outras respostas.

Entre os 13% de PVHA que não estão em casa cumprindo o distanciamento social, 18,2% estão entre pessoas que usam drogas; 17,6% são trabalhadores comerciais do sexo, 12,9% são gays e outros HSH, outros 12,9% não estão entre as populações-chave e 8,2% estão entre as pessoas transexuais.

Entre as frases que mais representam os motivos pelos quais as PVHA estão em casa, obedecendo à orientação de distanciamento social estão “cumprindo a quarentena recomendada pelo governo local, mas não tenho nenhum sintoma relacionado à Covid-19”, com 56% das respostas, e “ficando em casa por decisão própria para proteção, mas não tenho nenhum sintoma relacionado à Covid-19”, com 40,4%. Estão em casa 87% das PVHA respondentes.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), 70% é um nível de isolamento social adequado para fazer a curva de infecção descer, na população em geral. “Mas nós, PVHA, estamos superando a expectativa em 17%, ou seja, a nossa percepção de risco é maior e nos permite mais compromissos com as ações de enfrentamento”, analisa Moysés Toniolo, conselheiro nacional de saúde que representa a Articulação Nacional de Aids (Anaids) no Conselho Nacional de Saúde.

No entanto, as frases que mais representam as pessoas que não cumprem o distanciamento social são: “não estou ficando em casa pois preciso trabalhar e meu trabalho não me deu esta opção”, com 48,6% das respostas, e “não estou ficando em casa pois preciso trabalhar e tive receio de expor minha sorologia no meu trabalho”, com 34,7%; outros 11,4% dizem que não ficam em casa “pois sou responsável pelo cuidado de outras pessoas”.

Tratamento antirretroviral
Estão em tratamento antirretroviral 95,8% das PVHA respondentes. Apenas 4,2% não estão em tratamento atualmente. No mês da pesquisa, 63,2% das PVHA respondentes visitaram o serviço de saúde para reabastecer o estoque pessoal de antirretrovirais, mas 36,8% não o fizeram, muito provavelmente porque ainda têm os medicamentos. Os estoques pessoais estão nos seguintes níveis: 39% têm medicamentos para um mês ou menos, 32,3% têm para dois meses e 28,7% os têm para três meses.

Para Jair Brandão, secretário nacional de Articulação Política da RNP+BRASIL, são “muito importantes os dados apresentados nesta pesquisa”. Segundo ele, “o resultado mostra que ainda temos muitas PVHA sem acesso a água e sabão para se protegerem da COVID-19, assim como existem lacunas a respeito de ações, nos estados, voltadas para as PVHA e a prevenção diante do coronavírus. Isto é uma realidade triste. Não podemos fechar os olhos e achar que todos/as têm como se prevenir do vírus estando somente em isolamento”.

Brandão refere-se aos 17% de PVHA que não têm, em suas casas, equipamentos/insumos de proteção pessoal e doméstica suficientes, tais como água, sabão, máscaras, luvas, desinfetante, álcool e álcool em gel.

Ainda segundo o secretário nacional da RNP+BRASIL, “também chamou a atenção o dado sobre a necessidade de circular, nas redes sociais, mais informações específicas sobre PVHA e Covid-19. Ou seja, acesso às informações é fundamental em tempos de pandemia de Covid-19”.

“Temos que utilizar este instrumento para subsidiar nossas ações de incidência junto a gestoras e gestores, seja no âmbito nacional ou local. Assim como fazer advocacy junto ao Congresso para termos recursos emergenciais voltados para segurança alimentar e materiais de higiene para as PVHA nos municípios e nos estados. Divulgar estes dados é fundamental”, finaliza Brandão.

Clique aqui para acessar estes e outros resultados da survey do Unaids Brasil.

Fonte: Saúde Pulsando