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17/10/2023

Em homenagem e reconhecimento à luta de Nair Brito, ativistas da RNP+Brasil propõem mudar o nome da lei 9313, que garante tratamento universal para as pessoas vivendo com HIV e AIDS

A tradicional colcha de retalhos que ao longo da história da aids vem sendo costurada, retalho a retalho, pelas pessoas que querem homenagear parentes e amigos que morreram em decorrência da aids, ganhou um novo significado no 9º Encontro da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+ Brasil), em Fortaleza.

Nos debates sobre o resgate do histórico de luta e resistência da RNP+Brasil e o papel desta rede na reconstrução da política de aids, a ativista Nair Brito, do Movimento Nacional da Cidadãs Posithivas, encorajou os participantes a ressignificarem a colcha e homenagear também pessoas que estão vivas e continuam dando a vida nesta luta diária contra a aids. “Eu sou filha de nordestino, de retirante, eu e meus irmãos começamos a trabalhar muito cedo. O Brasil é um país que traz na cultura pessoas que sobrevivem. A aids gritou e cada um aqui é testemunha viva de que não há nada que pode nos parar… Eu e mais de um milhão de brasileiros aguardamos o dia em que a cura vai chegar.  Aprendi com o Betinho a lutar por essa verdade inquestionável. Contudo, esquecemos, ou talvez lembramos pouco, que a cura é uma realidade possível. Temo pensar nessa convivência tão longa com o vírus. Será que virou amizade? E se acabar, ficará uma lacuna difícil de preencher? Afinal são 40 anos juntos.”

A resposta, segundo Nair, é clara, está na toxicidade do relacionamento com o vírus, “que também é perverso porque nele sofremos violências:  física, social, moral, ética, medicamentosa, política e religiosa.  Viver com HIV ou com aids nesse contexto tem um custo alto:  a dor da perda, o medo, o preconceito, o descaso, o abandono, o estigma e a discriminação.  Temos marcas no corpo e na alma em decorrência dessas violências. Vemos politicas desenhadas por anos e debatidas exaustivamente por décadas. Ainda vemos pautas de governo e agências tentando orientar a agenda do ativismo. A persistências de corajosos ativistas, alguns já exaustos pela longa duração dessa árdua luta, é inquestionável. Novos ativistas ingressam somando esforços, agregando novas práticas e saberes. E graças a resistência de novos e antigos, a esperança nos acompanha. Só que agora sou tomada por uma impaciência com as longas agendas, o tempo da vida em mim agora é menor que há 40 anos, e parece que as respostas, as quais preciso ou anseio não acontecem na velocidade do meu tempo…”

Ela continua: “A ousadia e a luta pela vida nortearam e ainda norteia nossos passos, chegamos longe, mas ainda tem a cura. Eu sei que ela está perto. Já se fala dela com otimismo nos congressos, e assim como, no Congresso do Canadá, em 1996, que me inspirou a batalhar pelos medicamentos, quero mais uma vez gritar por ela: CURA JÁ!”

Com brilho no olhar e lágrimas nos olhos, os participantes do Encontro se calaram para ouvir a trajetória de luta e resiliência de Nair Brito.

Na linha de juntar os retalhos para relembrar histórias, os ativistas Paulo Giacomini, Vando de Oliveira, Moysés Toniolo e Jenice Pizão participaram da discussão contando suas trajetórias pessoais, que não por acaso, cruzam com a história da luta contra a aids no Brasil.

Com uma voz tomada pela emoção, Paulo usou sua fala para homenagear a ativista Nair Brito, que vive com HIV há mais 30 anos e conseguiu, em 1996, na justiça, o acesso universal ao tratamento antirretroviral. “Se não fosse a Nair, não estaríamos aqui, vivas. Nair esteve na Conferência de Aids, em Vancouver, no Canadá. Foi lá que ela viu o cientista David Ho apresentar medicamentos muito potentes contra a aids. Ela voltou para o Brasil motivada e procurou a advogada Áurea Abbade, que na época era presidente do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids. As duas entraram com uma ação judicial e a liminar foi concedida.”

No mesmo ano, a lei 9313 proposta pelo senador José Sarney tornou obrigatória a distribuição gratuita do coquetel pelo SUS, incluindo todos os remédios que viessem a ser desenvolvidos no futuro.

Por toda força e protagonismo de Nair Brito, o ativista Vando Oliveira propôs e o grupo aprovou em plenária que a lei que ficou conhecida como Lei Sarney receba o nome de Nair Brito. A proposta vai de encontro com a mobilização que vem acontecendo no Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, no qual Nair é uma das fundadoras. De acordo com as Cidadãs, este assunto será pautado na próxima reunião da Frente Parlamentar de Aids, em Brasília.

“As vezes a gente comete falhas e não reflete sobre. Cheguei na RNP+ em 2008, na metade do caminho, mas com a obrigação de seguir a diante. Houveram muitas conquistas, estamos vivos. Qual é o sentimento de começar a perder o que já se conquistou? Será que a gente não precisa melhorar enquanto rede? Somos tantos, o que está faltando? Precisamos estar mais juntos? Falar é fácil, sentir é outra coisa. Não somos parte do processo, quando o assunto é HIV e aids, nós somos o sujeito.”

Como Vando, Jenice Pizão, uma das fundadoras da RNP+Brasil, convidou o coletivo a refletir sobre a real participação nesta luta. “Eu vivo com HIV há 33 anos, sou professora de história e quando descobri o diagnóstico ainda dava aula. Naquela época, eu já pensava no impacto que poderia causar caso eu contasse sobre o HIV para os meus alunos. Eu contei e eles me acolheram.  Quando cheguei no movimento de aids, nos anos 1990, eu já sabia que não dava para falar da epidemia de aids sem direitos humanos. O primeiro embate das pessoas vivendo com HIV/aids foi com o próprio movimento, que era formado pelas ONGs. No Vivendo, no Rio de Janeiro, nos foi perguntando qual era a necessidade de criar uma rede de pessoas com HIV e aids. Quando decidimos criar o movimento de mulheres, também fomos questionadas. A gente não estava lá para enfraquecer, pelo contrário, as Cidadãs Posithivas fez crescer o movimento nacional de pessoas vivendo com HIV e aids, nós também somos RNP+Brasil”, compartilhou.

Ao longo da discussão, um a um, os ativistas foram preenchendo os retalhos da colcha, com a missão de dar continuidade a tudo que já foi feito, sem deixar ninguém para trás. As discussões chegaram ao fim com a fala da ativista Silvia Aloia, do MNCP. “Eu era uma das que questionava a importância de participar de um movimento de mulheres, uma vez que já exista a RNP+Brasil. Quando estive pela primeira vez em uma reunião das Cidadãs, me encontrei no ativismo. Foi ali que entendi que as mulheres somavam neste movimento de pessoas vivendo com HIV.”

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista 

RNP+Brasil
E-mail: comunica@rnpvha.org.br

Fonte: Agência de Notícias da Aids

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