DURBAN – Pesquisa realizada pelo governo da África do Sul com pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA) vinculadas a três redes de PVHA sul-africanas encontraram resultados similares à sociometria realizada pela RNP+ divulgada em outubro de 2015. O estudo, no qual foram ouvidas 10.473 PVHA maiores de 15 anos encontrou índices muito parecidos com os encontrados pela RNP+, em questionário respondido por 326 pessoas anonimamente. O questionário brasileiro foi aplicado apenas em pessoas vinculadas à RNP+, maiores de 18 anos. A média de idade das PVHA sul-africanas é de 36 anos, enquanto a média da RNP+ é de 44 anos.
Na África do Sul, 65% das PVHA respondentes são mulheres. Na RNP+ são 42%, São casadas ou estão em um relacionamento 70% das PVHA ligadas a uma rede de PVHA; a RNP+ não tinha esta questão específica em sua sociometria. Das PVHA sul-africanas, 88% têm ensino médio ou terceiro grau completos e 60% estão desempregadas; na RNP+, são 66% com essa mesma escolaridade e não foram coletados dados daquelas que não trabalham.
Enquanto na África do Sul, 89% revelaram o diagnóstico positivo de HIV para seus respectivos companheiros sexuais, 85% revelaram para outros adultos da família, mas apenas 25% abriram o diagnóstico para líderes comunitários.
Sofreram discriminação da família ou de amigos após terem revelado o diagnóstico 44% das PVHA. O índice de discriminação na escola ou universidade foi de 34%. Os níveis de ofensa física ou verbal ficam perto dos 90% (dependendo da ofensa e por quem a PVHA é ofendida). Internalizaram o estigma 28,7% dessas pessoas e 33% delas decidiram não ter mais filhos, 14% decidiram não mais fazer sexo e os mesmos 14% resolveram não mais se casar. Afastaram-se dos círculos sociais 11% das pessoas e 10% se isolaram dos amigos e da família.
Na RNP+, não foram desvinculados os tipos de estigma e discriminação. Porém, 60,54% relataram ter sofrido algum tipo de discriminação. Sofreram discriminação familiar ou institucional no Brasil, 62,24% das PVHA vinculadas à RNP+.
Assustadoramente, 43% das pessoas respondentes relataram experiências de sentimento de internalização do estigma e 11% relataram ter pensado em suicídio. A RNP+ não levantou estes números.
Para a professora Vera Paiva, “estigma e discriminação continuam matando mais que a aids”, ainda que após a introdução da medicação tenha sido significativamente reduzido.
Uma diferença nos estudos está relacionada à coordenação do levantamento. No Brasil, este foi realizado pelo professor Jorge Beloqui; na África do Sul, pelo governo sul-africano.
Por Paulo Giacomini