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18/03/2022

Rico Vasconcelos/ UOL: PEP, a parte (infelizmente) esquecida da prevenção combinada ao HIV

Um dos fatos mais marcantes na história da pandemia de HIV sem dúvidas foi a mudança ao longo do tempo na curva de novos casos da infecção registrados anualmente em todo o mundo. Se nas décadas de 1980 e 1990 assistimos a um crescimento explosivo nos casos diagnosticados, a partir da virada do milênio, felizmente o cenário mudou. Primeiro, a incidência dessa infecção parou de crescer para depois entrar em uma tendência de queda que dura até hoje.

Agora, se você acha que o que determinou as variações nessa curva de incidência foi apenas a proporção de pessoas que usavam a camisinha em suas relações sexuais e o número de parcerias sexuais que cada indivíduo tinha, saiba que está bem por fora da realidade.

Muito mais do que um método de prevenção isolado ou o julgamento da vida sexual alheia, foram a existência e a combinação de múltiplos e diferentes métodos de prevenção os principais fatores a influenciar na velocidade de crescimento da pandemia de HIV ao longo dos seus 40 anos.

Da mesma forma que com os métodos contraceptivos, somente a partir da compreensão de que pessoas diferentes se adaptariam a diferentes formas de prevenção é que de fato os números começaram a melhorar. Imaginem como seria o mundo hoje se para evitar uma gestação não desejada tivéssemos disponíveis apenas a abstinência sexual e a camisinha?

No processo de desenvolvimento de novos métodos de prevenção do HIV, a chegada dos medicamentos antirretrovirais foi o que deu origem à maior desaceleração do crescimento da pandemia. Seja quando utilizados para tratamento das pessoas que vivem com HIV ou quando prescritos para pessoas não infectadas, o uso de antirretrovirais conseguiu reduzir os riscos de transmissão do HIV a níveis insignificantes. Independentemente do uso do preservativo, da prática sexual realizada ou do número de relações sexuais.

Quando usados para prevenção por pessoas não infectadas com HIV, os antirretrovirais são denominados profilaxias. Esse uso pode ser feito de forma programada, antes de uma relação sexual, o que chamamos de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), ou de forma emergencial, depois de uma exposição sexual não programada, na forma de Profilaxia Pós-Exposição (PEP).

As duas profilaxias medicamentosas contra o HIV já estão disponíveis há anos no SUS (Sistema Único de Saúde). No entanto, se por um lado a PrEP tem demanda e dispensação crescentes a partir da sua chegada em 2018, a dispensação da PEP parece que se estagnou no país.

No estado de São Paulo, o que mais realiza atendimentos de PEP do país, por exemplo, segundo os dados do Painel PEP do Ministério da Saúde, entre 2017 e 2020, a procura mensal por PEP permaneceu estável, sem tendência de crescimento, oscilando entre 1.500 e 3.000 indivíduos. No ano de 2020, devido à pandemia de covid-19 a procura por PEP despencou para depois retomar uma média pouca coisa maior que antes.

Em todo o mundo, diferentes países relatam dificuldade para conseguir ampliar a distribuição da PEP. Apesar da altíssima eficácia protetora contra o HIV e de praticamente não ter efeitos colaterais, muitas pessoas mesmo sabendo que podem ter se exposto ao vírus numa relação sexual desprotegida deixam de buscar a PEP por receio da intolerância aos medicamentos antirretrovirais.

Além disso, até mesmo entre aqueles que têm conhecimento da existência, eficácia e segurança da PEP, com frequência encontramos barreiras de acesso a esse método de prevenção, como por exemplo o medo de julgamento e exposição de intimidades da vida sexual para um profissional durante o atendimento nos serviços de saúde.

Para que tenha máxima potência preventiva, a PEP deve ser iniciada em até 72 horas da exposição sexual de risco e tomada com boa adesão por 28 dias. Assim, se uma pessoa demorar muito para se decidir se vai buscar PEP ou não, pode perder a oportunidade de evitar uma infecção por HIV.

Algumas medidas nos últimos anos foram tomadas para tentar derrubar essas barreiras de acesso à PEP, como o aumento do número de serviços que realizam esse atendimento (veja aqui a lista) e a capacitação dos profissionais da saúde que fazem esse atendimento.

Com a regulamentação dos atendimentos online de telessaúde devido à pandemia de covid-19, a PEP ganhou também mais uma porta de acesso. De forma semelhante ao que já é feito na Europa e nos Estados Unidos, já é possível no município de São Paulo conseguir PEP por meio de teleatendimento e delivery de um kit com os medicamentos antirretrovirais e autotestes de HIV no local que se escolher. Isso é o que promete a parceria da empresa VenLibre (www.venlibre.com.br) com as coordenações estadual e municipal de HIV de São Paulo.

A PEP é um método eficaz de prevenção do HIV já comprovado e disponível no Brasil. Não podemos deixar de divulgá-la, pois certamente as situações com indicação precisa do seu uso devem ser na realidade muito mais frequentes do que os apenas alguns milhares que chegam aos serviços de saúde todos os meses no Brasil.

Barreiras como a desinformação, falta de acolhimento e discriminação podem ser as responsáveis por milhares de novas infecções por HIV que poderiam ser evitadas pela PEP todos os anos.

Por fim, se a diversificação dos métodos de prevenção conseguiu modificar a curva histórica e reduzir o número de novas infecções por HIV, somente a ampliação do acesso a eles será capaz de zerar esses casos e enfim controlar a pandemia.

Fonte: Viva Bem (UOL) / Coluna Rico Vasconcelos

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Posto de saúde Maria Cirino Souza

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