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17/10/2023

Emoção, memórias e mensagens de fortalecimento em rede marcam a abertura do 9º Encontro da RNP+Brasil, em Fortaleza

A Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+ Brasil) abriu, na noite dessa segunda-feira (9), em Fortaleza, seu 9º Encontro Nacional – “Na Reconstrução da Política de Aids a partir de sua história e do Fortalecimento dos laços de solidariedade”. Preocupados com a urgência na retomada de ações e fortalecimento da luta contra aids pelo país, ativistas aproveitaram a mesa de abertura para relembrar a história do movimento aids no Brasil, reafirmaram que seguem unidos e cobraram mais empenho da gestão pública nas três esferas de governo. “Estamos muito felizes pela oportunidade de realizarmos este encontro, mas não posso deixar de mencionar que não temos aqui representantes do Brasil inteiro porque muitos Estados e municípios não apoiaram a participação da sociedade civil. Fica aqui minha indignação, sem nós, pessoas vivendo com HIV, não há política de aids”, disse Vando Oliveira, Secretário Nacional de Articulação Política da RNP+ Brasil. “Nós somos resistência, este é o encontro da reconstrução, nos últimos 4 anos perdemos muitos, fomos chamados até de despesa.”

Na mesma linha, o jornalista Paulo Giacomini, da RNP+, núcleo São Paulo, destacou em sua Palestra Magna mensagens de união. “A RNP+ Brasil somos nós e a nossa construção é diária. A aids ainda não foi eliminada como problema de saúde pública, não descobriram a cura”, disse.

Emocionado e com um tom critico, Paulo trouxe para o centro das discussões o seu artigo ‘Autofagia não une, não reconstrói e faz mal à saúde’. “Temos uma oportunidade histórica de retomar os princípios de solidariedade, visibilidade e da luta por qualidade de vida que motivaram a criação da RNP+”, disse.

No artigo, o ativista relembrou os motivos pelos quais a luta diária em defesa desta população é urgente e fez duras criticas ao tratamento antirretroviral generalizado.  Para ele, a chegada do dovato no SUS não representa novidade no tratamento. “Você já se perguntou por que o tenofovir alafenamida, menos tóxico e com menos efeitos para ossos e rins das pessoas vivendo com HIV ou aids, foi registrado na Anvisa para o tratamento da hepatite B, mas não para o tratamento do HIV? Sabe o que isso significa para o tratamento e a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV ou aids?  Com registro concedido pela Anvisa no final de 2021, o dovato é a combinação de dolutegravir e lamivudina. O dolutegravir está disponível no Brasil desde 2017. É medicamento velho em embalagem nova.”

Relembrar para construir

No sentido de rememorar coletivamente a histórias da aids a partir do resgate de vivências do movimento social, Paulo convocou os membros da RNP+ a compartilharem durante a abertura do evento boas lembranças simbolizadas num objeto. “Acredito que com o resgate da nossa história teremos a oportunidade de fortalecer mais uma vez os laços de solidariedade, como fazíamos com as grandes colchas de retalhos que usávamos em manifestações nos anos 1990. Unidos podemos reconstruir tanto a política de aids quanto a RNP+, para todas as pessoas vivendo com HIV e aids no Brasil.”

Náo faltaram objetos. Alguns trouxeram bandeiras, outros mostraram a coleção de laços da aids, teve gente que mostrou até pastas de encontros anteriores. Da RNP+ Amazonas, Vanessa Campos relembrou em uma camiseta criada pelo coletivo a importância da chegada do consenso indetectável é igual a intransmissível (I=I) na vida de pessoas vivendo com HIV/aids. “Foi libertador, já cheguei a acreditar que eu era o HIV ambulante. Dizer que somos pessoas vivendo e não vetores de transmissão é fundamental para seguirmos nesta luta. Espero que as nossas demandas fiquem cada vez mais detectáveis para a gestão para que a gente fique indetectável para o vírus.”

Jenice Pizão, do Movimento das Cidadãs Posithivas (MNCP), disse que sua maior marca é a representação e participação de pessoas vivendo com HIV em todos os espaços. “A gente está aqui porque fizemos história. Se a gente não continuar fazendo história, para que serve a gestão nacional?”

Também do MNCP, Silvia Aloia, aproveitou a oportunidade para cobrar do atual diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi), Dr. Draurio Barreira, a participação de representantes de todas as redes de pessoas vivendo com HIV no Comitê Interministerial para Eliminação de Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS). De acordo com a militante, “somos todos RNP+, mas temos nossas especificidades. Sem o movimento social, a política de aids seria capenga”, criticou. Para ela, é preciso resistir, construir e continuar lutando por resiliência.

Da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, a maranhense Katiana Rodrigues, disse que os jovens querem continuar somando na luta contra aids. Estamos conectados para fazer a diferença de fato.” Do Pará, Cledson Sampaio destacou que neste evento são 90 ativistas representando milhares de pessoas vivendo com convivendo com HIV/aids. “Não tenham medo de colocar suas opiniões e debater. A RNP é também um espaço político.”

A emoção também ficou evidente na fala da ativista Dandara Albuquerque, da Rede de Pessoas Trans Vivendo com HIV/Aids. “Nós pessoas trans podemos ir além, somos parte desta luta contra a aids e a favor da vida.”

Representando o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, o ativista baiano, Moysés Toniolo, relembrou a importante luta do controle social em defesa do SUS e da política de aids nos últimos quatro anos. “Não foi por acaso que passamos quatro anos resistindo. Perdemos milhares de vidas para a Covid, inclusive pessoas vivendo com HIV. Agora, queremos ter voz e participar de todas as comissões, inclusive da Cnaids, que assessora diretamente a ministra da Saúde.”

Outro lado

Os gestores ouviram atentamente as observações dos ativistas e reafirmaram o compromisso na luta contra a aids. “Temos o dever e a responsabilidade de retomar o diálogo com a sociedade civil. Não há resposta contra aids e outras doenças determinadas socialmente sem a participação da sociedade civil. União e reconstrução não é só é um slogan do governo, queremos tudo isso na prática. Durante o período de desmonte, ficou claro o processo de invisibilização da resposta governamental à aids, principalmente entre pessoas pobres, pretas, pardas e periféricas”, disse Dr. Draúrio.

O gestor garantiu ainda que ele e sua equipe tem trabalhado para reativar os espaços de participação da sociedade civil. Para além, disse reconhecer com absoluta legitimidade as questões que vem sendo levantadas pela sociedade civil. “O Brasil já atingiu a meta de carga viral indetectável, mas precisamos fazer muito mais, como por exemplo, dar PrEP para todo mundo que queira, principalmente com a descentralização da profilaxia na farmácia popular. A meta é aumentar em 300%.”

Ainda com relação a PrEP, o gestor reconheceu que as pessoas que mais necessitam não conhecem essa tecnologia.

Em resposta ao artigo de Paulo, Dr Draurio disse que algumas questões já estão superadas e citou a publicação do novo Protocolo Clinico de Diretrizes Terapêuticas. “Participar deste evento no Ceará é muito significativo para mim, nasci em Fortaleza. Como disse Geraldo Vandré, em Terra Plana, deixo claro que a firmeza do meu canto vem da certeza que tenho. De que o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza. Foi que me fez cantador.”

Aids no Ceará

Da área técnica de IST/Aids no Ceará, Telma Martins, disse que “é tempo de esperança. Os desafios são imensos e reconstruir a política de aids é um deles. No Ceará, o maior desafio é o acesso a política de saúde, principalmente das populações-chave, que chega com diagnóstico de HIV tardio. Considero o movimento social a nossa principal escuta. Não há formação de políticas públicas sem escuta.”

Assim com Telma, Dr. Rilson Andrade, secretário de Articulação Interinstitucional do Cosems, reconheceu os desafios e disse que a cidade de Fortaleza terá uma série de mudanças. “Temos que enfrentar as barreiras e reduzir efetivamente o estima e a discriminação.”

Apoio a arte trans

A Oficial de Igualdades e Direitos do Unaids Brasil, Ariadne Ribeiro Ferreira, esteve na mesa de abertura e saiu em defesa de Andrey Lemos. Funcionário público desde 2015, o ex-diretor do Ministério da Saúde foi exonerado após ter assumido responsabilidade pela apresentação da dança “Batcu”, no 1º Encontro de Mobilização da Promoção da Saúde no Brasil.

Um vídeo gravado por participantes do encontro mostra uma mulher trans rebolando, virada de costas para a plateia. “Me sinto machucada com tudo que aconteceu, a atração cultural apresentada no evento reflete a arte e cultura que acontece nas periferias do Brasil. É desta forma que pessoas trans se apresentam. Não podemos nos esquecer que a vulnerabilidade social dita quem morre e quem sobrevive.”

Ao longo da abertura, diferentes militantes dedicaram o 9º Encontro Nacional aos ativistas Jorge Beloqui, José Hélio, Juliana, José Araújo e todos as pessoas que morreram em decorrência da aids.

O encontro segue até quinta-feira (12), com a participação de quase 100 lideranças vivendo com HIV e aids vinculadas à RNP+ em todo o Brasil.

 

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista 

E-mail: comunica@rnpvha.org.br

Fonte: Agência de Notícias da Aids

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