Diante da explosão de casos de varíola dos macacos (monkeypox) no Brasil, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) receberam nesta semana material para iniciar os estudos de uma vacina nacional contra a doença. A previsão é que a produção do imunizante possa começar em cerca seis meses.
Segundo os cientistas, as doses do imunizante nacional poderão proteger não só contra a monkeypox, mas também contra a varíola humana, erradicada mundialmente em 1980, além da bovina. Os estudos terão como base duas amostras do chamado “vírus-semente” doadas pelo Instituto Nacional de Saúde (INS), dos Estados Unidos, ao Centro de Tecnologia de Vacinas (CTVacinas) da UFMG. O trabalho é realizado em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
“Seis meses é um prazo adequado para crescer a semente e fazer os testes necessários, lembrando que o Brasil nunca produziu essa vacina”, afirma o pesquisador Flávio Fonseca, do CTVacinas da UFMG, coordenador da Câmara POX MCTI.
Ele lembra que, após a pesquisa, ainda é preciso aguardar a certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que pode aumentar esse prazo.
Na avaliação dos pesquisadores, o processo para desenvolver a vacina contra varíola dos macacos deve ser mais célere que o do imunizante contra a Covid-19, uma vez que o vírus já era conhecido. O Vaccinia ankara Modificado (MVA) — presente no vírus-semente — foi desenvolvido em 1976 na Alemanha e então utilizado como base para vacinas aplicadas contra varíola humana na Europa durante a reta final da erradicação, declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1980.
Autonomia
As amostras recebidas pelos pesquisadores brasileiros servirão de base para o desenvolvimento nacional do chamado insumo farmacêutico ativo (IFA), o que dará autonomia para o país fabricar vacinas contra varíola em meio ao cenário de escassez e à corrida por imunizantes, acelerando a fabricação:
“Se os casos aumentarem muito e a doença ficar descontrolada no mundo, todos os países irão querer a vacina (em grande escala) e, atualmente, são só dois produtores. Se não tivermos uma solução interna para produção, podemos ficar numa situação bastante complicada”, afirma o secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales.
Com mais de 5 mil casos da doença registrados, o Brasil é o terceiro país com mais infecções pela monkeypox no mundo. Numa medida emergencial, o Ministério da Saúde anunciou em julho a importação de 50 mil doses da vacina produzida pelo laboratório dinamarquês Bavarian Nordic, via Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que serão utilizados por profissionais da área da saúde.
Mudança
Em entrevista ao GLOBO publicada em agosto, Morales havia afirmado não ver necessidade de produzir vacina contra a doença no Brasil, já que havia imunizantes seguros e eficazes disponíveis no mercado. O aumento exponencial de casos e a disseminação da doença entre diferentes grupos populacionais, como mulheres e crianças, o levaram a mudar de ideia.
“Naquele momento, nós não tínhamos um número que justificasse vacinação em massa. Mas na eventualidade em que estamos agora, com aumento de número de casos e a necessidade de vários países acionarem a produção das duas empresas, temos que ter um backup, digamos, uma segurança nacional”, afirma Morales.
Reprodução da Agência Aids com informações do jornal O Globo