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31/07/2015

IAS 2015: um informe qualificado

Por: Jorge A Beloqui (GIV, ABIA, RNP+, Nepaids-USP)

Viajei para a VIII IAS, em Vancouver, Canadá, porque o DDST-AIDS e HV colocou à disposição da RNP+, MNCP e RNAJVHA uma bolsa para participação.

O que estou informando não tem comentários políticos, apesar de que a leitura mostra que há muito a ser comentado. Espero que o texto estimule o leitor a procurar fontes que informem com mais detalhe.

Comentário Geral sobre a Conferência:

  1. Houve muita ênfase sobre a situação dos (usuários de drogas injetáveis) UDI. Uma plenária com M. Kazatchkine (que comentaremos mais abaixo) abordou a situação na Europa Oriental, Ásia Central e Rússia. Em Rússia os UDI participam de 50% das infecções. Também está havendo uma epidemia de transmissão heterossexual. Quase todas as infecções se concentram em Rússia e Ucrânia (90%).
  2. As questões de estigma e discriminação foram abordadas transversalmente, mencionadas por vários palestrantes, até ao falar de cura.
  3. Houve também ênfase na profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV. Fábio Mesquita falou do tema na Plenária do dia 22.
  4. Falou-se muito sobre hepatite C e os medicamentos associados ao tratamento da coinfecção. Isto foi devido, também, à ênfase na epidemia entre UDI. Muitas queixas do preço excessivo destes medicamentos.

19 de julho

Assisti a um Seminário da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre novas Diretrizes para testagem, tratamento e formas de medir impacto. Entre os pontos examinados pelas Diretrizes, liberadas estão:

  1. Autotestagem (testagem nas farmácias etc.), cujo resultado positivo sempre necessita de confirmação. A este respeito, um profissional de Ruanda expressou que em seu país só 50% vão depois para o serviço de saúde. Ele atribuiu isto a que as pessoas não querem se testar num local onde podem conhecer uma enfermeira, um médico etc. Comentário: como se vê, a barreira para a testagem em parte permanece depois como barreira para a assistência.
  2. Testagem por leigos é possível na África mas fora em geral somente pode ser realizada por médicos e profissionais de saúde. Aqui há a preocupação com diagnósticos inadequados que variam entre 2% e 10%.

A seguir, três oradores tiveram 5 minutos para fazer suas considerações: Fábio Mesquita relatou a experiência de Curitiba de envio de teste pelo correio. O apresentador de Ruanda falou que dos que se autotestam e obtêm resultado positivo, somente 50% procuram o serviço. Atribuiu isto a que as cidades são pequenas e que a pessoa pode não querer se atender num lugar onde trabalha sua tia ou algum conhecido. Prapan, da Tailândia, expressou que no seu país a testagem por leigos é ilegal. Quanto a parte de tratamento, será liberada ainda neste ano e incluirá PrEP, HIV & cuidado mental & doenças cardiovasculares.

Seminário sobre vacinas

Entre outras novidades, haverá um ensaio de eficácia na África do Sul para uma vacina combinada semelhante àquela usada no ensaio RV144, na Tailândia, que mostrou uma eficácia de 31% em 3,5 anos. Vale ressaltar que neste estudo, a eficácia foi de 60% no primeiro ano, declinando depois. A ideia deste novo ensaio é aumentar a eficácia para 50% em 3,5 anos, para depois solicitar a liberação às autoridades da África do Sul. O ensaio, diversamente do RV144, será em população de alto risco.

O pesquisador Dan Barouch falou do leque de aplicações dos anticorpos amplamente neutralizadores, tanto para a prevenção como para o tratamento e a cura. Haveria potenciais aplicações para PrEP, PEP, tratamento e estratégias de cura! Há um ensaio de Fase II b para começar em mulheres da África do Sul e HSH dos EUA. Depois, provavelmente será pesquisado uma combinação de anticorpos para estes efeitos. Experiências da infusão de anticorpos em macacos foram muito eficazes para controlar a carga viral durante os dois meses que se seguiram à infusão dos anticorpos.

Abertura

Foi lembrado com emoção, do lema “um mundo, uma esperança” da Conferência de AIDS nesta mesma cidade, em 1996. Nessa Conferência foi adotada a terapia tríplice.

Chris Beyrer, presidente da International AIDS Society (IAS), disse que temos 15 milhões de pessoas em tratamento com antirretrovirais (ARV). Pelos resultados do estudo START, falta tratar entre 16 e 20 milhões de pessoas. Julio Montaner, co-presidente da Conferência, lembrou de todos os problemas que houve para a aceitação do Tratamento como Prevenção e criticou duramente os que a isto se opuseram. Leu uma carta do Papa Francisco, que pediu que “os frutos da pesquisa fossem acessíveis para todos, especialmente aos mais pobres, filhos queridos de Deus”.

Michel Sidibé falou da importância do acesso universal. Falou que Cuba eliminou a transmissão vertical recentemente. Que a meta de 15 milhões em tratamento em 2015 foi atingida em março deste ano, sendo talvez o único objetivo global da ONU a ser alcançado antes do tempo.

A Conferência inaugural foi sobre UDI. Foi mencionado que o fechamento de serviços para UDI na Grécia levou a um aumento imediato nas infecções em UDI.

20 de julho

Houve apresentação de Debora Birx (Pepfar) falando da importância de agir em cada país desagregando os dados de HIV por setor, aproximando os serviços para HIV, para alcançar mais sucesso.

François Venter, da África do Sul, falou da prevenção biomédica. Sobre os resultados do START citou D. Barr, que disse que provavelmente na época do d4T os resultados poderiam ter sido diferentes. Sobre PrEP, lembrou que a compensação de riscos não havia sido comprovada em ensaios e que a resistência não tinha sido importante.

Mais tarde o Dr. Lundgren apresentou dados do START, fechados até 26 de maio, com um acompanhamento médio de 3 anos.

De acordo com os resultados do ensaio START, as pessoas que iniciam a terapia antirretroviral (TAR) imediatamente após o diagnóstico de infecção pelo HIV, quando a sua contagem de células CD4 ainda é elevada (superior a 500) ao invés de esperarem que a contagem desça para valores inferiores a 350 células/mm3 , têm um risco significativamente inferior de doença e morte. Os resultados finais foram apresentados na conferência IAS 2015 e publicados simultaneamente na edição avançada do New England Journal of Medicine. O estudo incluiu 4.685 adultos com HIV em 35 países do mundo. As pessoas que participaram do ensaio tinham uma contagem de células CD4 superior a 500 no início do mesmo. Foram divididas de forma aleatória num grupo que iniciaria imediatamente o tratamento ou noutro que adiaria o tratamento para quando a contagem de células CD4 fosse inferior a 350 ou desenvolvessem sintomas de aids. O professor Jens Lundgren, da Universidade de Copenhaguem, reportou que a percentagem combinada de episódios graves relacionados com aids, episódios graves não relacionados com aids (doença cardiovascular, problemas renais e de fígado etc.) e morte foi de 1,8% nos participantes que se encontravam no grupo de início imediato do tratamento, em comparação com os 4,1% no grupo que adiou a TAR – uma redução de 57%. Os episódios mais comuns em ambos os braços foram tuberculose (pulmonar e extrapulmonar) e câncer (linfoma Hodgkin e não Hodgkin). Houve 42 episódios graves entre os que tomavam TAR comparado com 96 entre aqueles de tratamento diferido. Os eventos de aids foram 14 entre aqueles em TAR comparados com 50 entre aqueles de tratamento diferido (RR=0,28; p< 0,001). Os eventos graves não relacionados com aids foram 29 no grupo de tratamento imediato versus 47 no grupo de tratamento diferido, resultando numa redução de risco de 39% (IC 95%: 0.38-0.97, p = 0.04). Aqui as curvas de ocorrência dos eventos não se separaram tão “rapidamente ou marcadamente” como nos eventos de aids, disse Lundgren. O evento não AIDS mais frequente foi o câncer não relacionado com aids (9 vs 18 eventos) e doença cardiovascular (12 vs 14 casos). As mortes foram 12 vs 21, mas sem significação estatística.

A OMS anunciou esta semana que as próximas orientações recomendarão o tratamento para todas as pessoas, independentemente da contagem de células CD4. As orientações dos EUA, adotaram o tratamento universal para o HIV em 2013 e a British HIV Association (BHIVA) fez o mesmo na versão preliminar das novas orientações, lançadas em junho, após a divulgação das conclusões preliminares do START.

Diferentes formas de administrar a PrEP

Foram conduzidos ensaios randomizados (HPTN-067 ADAPT) e independentes entre si com homens que têm sexo com homens (HSH) em Bangkok, com HSH do bairro do Harlem, em Nova Iorque e mulheres da Cidade do Cabo.

Foram apresentados três estudos que demonstram que, para algumas pessoas e em alguns locais, esquemas de PrEP de menor frequência e com tomadas associadas à atividade sexual são exequíveis, sendo muitas as práticas sexuais protegidas pela PrEP. Isto poderá representar mais opções para as pessoas que querem tomar a PrEP, e para os seus médicos, pois permite encontrar um padrão de tomada da PrEP mais adaptado a cada pessoa. O estudo era aberto, ou seja, todos sabiam o que tomavam.

Os pesquisadores anteciparam que as características sociais, culturais e demográficas tão diferentes entre estas populações poderiam determinar esquemas de PrEP mais adequados segundo a população. Os esquemas foram:

  1. uma vez por dia, sete vezes por semana;
  2. duas vezes por semana (com uma dose extra antes e após a relação sexual);
  3. duas tomadas nas 24h anteriores à relação sexual, uma no dia seguinte e outra no dia sub-seguinte.

Houve seis semanas de PrEP com TOD (tratamento observado diretamente) e após isto, 24 semanas de autoadministração.

Tanto o esquema diário, como os não diários resultaram bons para os participantes de Bangkok (Zero soroconversões entre 178 voluntários) que eram, na sua maioria, pessoas com escolaridade elevada e com empregos. Nos outros dois locais, onde as condições sociais difíceis são mais comuns, a adesão à dose diária teve a preferência. Os resultados sugerem alguma flexibilidade sobre as formas como a PrEP pode ser prescrita. Mas estes pequenos estudos demonstram exequibilidade e não eficácia. A melhor evidência sobre a proteção contra a infecção vem de estudos sobre PrEP diária. A dose pós sexo foi a mais esquecida.

Uma profissional do time realizou um estudo entre voluntários participantes para analisar os facilitadores da participação no ensaio. Identificou que algumas pessoas tinham muito ceticismo, e que muitas tinham um alto valor sobre a reciprocidade com a comunidade. Havia suspeitas sobre a segurança, e a integridade do estudo, outros com incerteza (posso confiar ou não?), outros com a atitude “vou tentar” e por último os que estavam firmemente convencidos. Ela recomendou no final que:

  1. não pensar que os voluntários entram neutros no estudo ;
  2. permitir que sejam céticos.

Jean Michel Molina, pesquisador principal do ensaio IPERGAY, falou sobre a possibilidade de redução das 4 pílulas do esquema intermitente usado no IPERGAY (o esquema 3 citado acima). Tanto analisando amostras de seres humanos como em estudos em macacos, expressou que esta redução não seria possível com os medicamentos ora em uso. Também afirmou que as experiências em macacos mostram que a concentração de tenofovir (TDF) aparece alta só 24h após, enquanto o emtricitabina (FTC) só 2 h após a administração. Também, depois de 5 doses diárias houve uma redução de risco de 96%.

Soroadaptação

O serosorting refere-se a práticas sexuais entre pessoas que escolhem, segundo a sua percepção, os parceiros sexuais que consideram que têm o mesmo estatuto sorológico para o HIV que elas mesmas, ou que optam por não usar o preservativo com estes parceiros. É claro que os cenários não são necessariamente tão simples como as pessoas soronegativas para o HIV terem relações sexuais com outras pessoas soronegativas, ou que as pessoas soropositivas para o HIV têm relações sexuais com pessoas soropositivas.

Os homens gay podem decidir qual dos parceiros é receptivo dependendo da sorologia para a infecção de cada um. Um homem soronegativo para o HIV pode considerar ser mais seguro ter relações sexuais sem o uso do preservativo com uma pessoa com carga viral indetectável do que com uma pessoa que afirma ser soronegativa para o HIV, mas que fez o teste há um ano ou mais. Contudo, ter estes comportamentos “soroadaptados” depende de cada pessoa e do nível de compreensão da comunidade sobre os fatores de transmissão da infecção pelo HIV e que podem ainda ser limitados pelo estigma.

Segundo alguns estudos apresentados durante a conferência, há evidência de que alguns grupos de homens gay da Austrália e América tomam a decisão de usar ou não o preservativo dependendo se os parceiros soropositivos para o HIV têm carga viral indetectável e do tempo decorrido desde que o parceiro soronegativo fez o último teste do HIV. Um pesquisador da Austrália atribuiu a popularidade do uso da carga viral indetectável se o parceiro for pessoa com HIV na soroadaptação, devido às campanhas realizadas pela comunidade sobre a importância da redução da carga viral.

Também houve uma sessão sobre saúde da população Trans. A brasileira Riccielly fez uma apresentação. Eu não participei.

Também no dia 20 houve um workshop para a avaliação de intervenções que visam a mitigação do estigma em populações chave. Eu não participei.

21 de julho

Em Plenária, Roy Gullick, que abordou o tema “com o que iniciar o tratamento?” fez um histórico da TAR. Na atualidade, há consenso em que deve ser usado 2 NRTI mais um terceiro agente. Várias diretrizes convergem:

  1. Espanha recomenda como terceiro agente DTG (dolutegravir) ou RAL (Raltegravir)
  2. DHHS (EUA, 2015): DTG, ou RAL, ou EVG (Elvitegravir) ou DRV/r (darunavir com ritonavir)
  3. BHIVA (britânicas): ATV/r (atazanavir com ritonavir), DRV/r, ou EVG, ou RAL

O EFV (Efavirenz) fica como alternativa mas não como primeira opção. Também, para diminuir efeitos colaterais, está se tentando algumas coisas: O TAF (pró-droga do tenofovir) usa menos princípio ativo para igual efeito. Como há menos droga eliminada, os efeitos adversos renais diminuem.

Evan Wood, que falou sobre “Como as políticas de drogas deveriam responder ao HIV?”, referiu a experiência de Vancouver com UDI. Salientou a importância do envolvimento da comunidade (de usuários), a troca de seringas e locais de uso seguro. Isto último evita o compartilhamento de seringas. A guerra às drogas só piorou as coisas na cidade e com os UDI.

Gregory Dore conclamou ao Acesso à terapia de Hepatite C para todos! Falou da importância e das grandes eficácias, pouca toxicidade dos novos tratamentos livres de interferon. Em alguns casos deverá ser individualizado o tratamento, como por exemplo o de pessoas com cirrose cujo tratamento pode passar de 12 semanas e se não funcionar, para 24. Para o caso de tratamento da coinfecção com HIV, referiu problemas de interação do EFV com sofosbuvir e com ledipasvir.

Sobre o acesso, falou que algumas licenças voluntárias cobrem países de rendas baixa e média, mas não todos. Provavelmente em alguns casos seja necessária uma licença compulsória. Ressaltou o papel crucial da sociedade civil.


Depois da Plenária houve um estudo importante comparando em pacientes tailandeses, ATZ/r (200mg) com ATZ/r (300mg). Foi um estudo de não inferioridade por 48 semanas. O critério de entrada foi de uso como primeiro resgate. As eficácias foram as mesmas (tanto na análise por intenção de tratamento, como observada). Contudo, houve mais descontinuações no braço de mais remédio (7,6% versus 2,6%). Os problemas foram devidos à bilirrubina (graus 3 e 4 de severidade).

Além disto haveria um menor custo para o tratamento. Limitações: talvez não se aplique a outras etnias (peso inferior aos brancos).

Numa Sala que abordou a PrEP, Beatriz Grinsztejn do IPEC (Fiocruz-RJ) mostrou alguns dados do PrEP Brasil, conduzido neste hospital, CRT-AIDS de SP e FM-USP. Dos 986 candidatos a voluntário para o estudo aberto para uso de TDF+FTC (tenofovir mais emtricitabina) entre HSH e mulheres trans, 409 permaneceram para iniciar o estudo. Ou seja, a aceitação foi de 409/986=51%. O estudo está em andamento, administrando o TDF+FTC.


Resultados finais do HPTN 052

Em maio de 2011 o DSMB sugeriu a suspensão do estudo HPTN-052 (ver Boletim Vacinas) baseado na quantidade de infecções. Houve 27 infecções (dentro do casal) no grupo que adiou o uso de TAR comparado com 1 no grupo que iniciou a TAR imediatamente. Desde maio de 2011 até maio de 2015 houve 7 e 2 respectivamente.

Principais conclusões:

Em casais sorodiscordantes, a TAR precoce mostrou benefício durável na redução da transmissão do HIV. Houve uma redução de risco de 93% durante o período de 10 anos. Todas as infecções ocorridas dentro do casal e na fase aberta depois de maio de 2011, apresentaram-se:

  1. Antes do início da TAR;
  2. Antes de que a carga viral ficasse indetectável nas semanas após o início de tratamento;
  3. Ou quando o tratamento falhou.

Não houve transmissão do HIV do parceiro com HIV para o parceiro sem HIV quando o parceiro em tratamento estava usando TAR e com carga viral indetectável.

Os pesquisadores concluíram que a TAR é muito efetiva para prevenção da transmissão sexual.


Informe sobre o TAF (medicamento pró-droga do Tenofovir)

O tenofovir alafenamida (TAF) é uma nova formulação do tenofovir que alcança níveis mais elevados nas células infectadas pelo HIV. Apresenta menores concentrações no plasma sanguíneo e há menor exposição do fármaco nos rins, ossos, órgãos e tecidos. O estudo de Fase 3, em pessoas experimentadas de TAR com função renal normal que mudaram da formulação anterior do tenofovir para a nova, concluiu que as pessoas que mudaram do Atripla® ou atazanavir/Truvada para TAF (10mg), emtricitabina (200mg), elvitegravir (150mg) e cobicistat (150mg) tiveram uma resposta viral significativamente melhor, enquanto se observou o mesmo em pessoas que mudaram para Stribild®. As pessoas que mudaram para o TAF tiveram melhoria nos marcadores da função renal, enquanto as pessoas que permaneceram com a atual formulação do tenofovir (TDF) pioraram. De forma muito importante a densidade óssea aumentou numa média de +1.79% no braço do TAF enquanto diminuiu numa média de -0.28% entre as pessoas que permaneceram nos esquemas existentes do TDF.

Sessão sobre Acesso Global a medicamentos para Hepatite C

O primeiro orador explicitou os preços do Sofosbuvir (12 semanas), por país: EUA (US$84,000), Alemanha (US$67,000), Reino Unido (US$57,000), Egito (US$1,000). E o mínimo, entre US$68 e US$136. Foi falado que se fosse priorizar, deveria ser levado em conta duas questões: estágio da doença hepática e potencial de prevenção, porque poderia também haver um tratamento como prevenção. Estimam entre 4 e 6 milhões de pessoas com HIV e HCV.

A seguir, Tracy Swan expressou que há 700.000 mortes anuais de Hepatite C. Os tratamentos atuais são muito eficazes (mais de 90% de eficácia para várias condições) e menos de 3% de abandono por Eventos Adversos. Leena Menghaney, do Médicos Sem Fronteiras, lembrou que o Egito rejeitou a patente do sofosbuvir. Expressou que o governo do Brasil tomou uma atitude decepcionante ao pagar US$10,000 por tratamento. Também reclamou que a Bristol (BMS) não quis registrar o daclatasvir na Índia, apesar de vários apelos da comunidade. O Dr. Andrew Ball, da OMS, lembrou que a Hepatite está incluída nos objetivos do milênio para desenvolvimento: Há o objetivo de tratar 3 milhões de pessoas com Hepatite C até 2020, e 80% de redução na hepatite C até 2030. E que o Presidente do Egito comprometeu-se a que no Egito seriam tratados 1 milhão de pessoas com Hepatite C.

22 de julho

A Plenária iniciou com Michel Kazatchkine para falar da situação da epidemia na região dada por Rússia, Europa Oriental e Ásia Central, onde a epidemia expande-se. Houve um aumento de 51% nas infecções entre 2005 e 2014. Também há transmissão heterossexual e homossexual. A coinfecção com Hepatite C é alta (ao redor de 45%). Há muita discriminação. Houve um informe publicado recentemente pela Comissão UNAIDS-Lancet a este respeito.

Glenda Gray falou sobre vacinas anti-HIV. Entre outras coisas mencionou que haverá um ensaio de prevenção com infusão de anticorpos (passivo) iniciando em 2016 com MSM da América (incluindo América do Sul) relacionados ao subtipo B e também em mulheres da África do Sul.

Fábio Mesquita (Brasil) falou depois sobre PrEP. Fez um histórico a respeito, e citou também o ensaio Ipergay. Há muitos ensaios de PrEP em curso. Na atualidade, só EUA, Malásia e Tailândia aprovaram a PrEP. Ele disse que espera que o Brasil incorpore esta estratégia. Referiu a preços: TDF+FTC seria fornecido pela Gilead a US$315 a dose anual, enquanto o genérico seria de US$116.

Há questões a abordar

  1. Dosagem (como as tentativas notificadas no dia 20)

    Centro de Mídia da IAS 2015 (Fotos: Marcus Rose/IAS)

    Centro de Mídia da IAS 2015 (Fotos: Marcus Rose/IAS)

  2. Populações-alvo
  3. Quando suspender
  4. TDF ou TDF+FTC?
  5. Pagamento público ou privado
  6. Estudos em curso

Conclusão

  1. Foi mostrada eficácia em várias populações chave;
  2. Não há evidência de compensação de risco até o momento;
  3. Não há evidência de desenvolvimento de resistência importante aos ARV.

Mais tarde houve uma sessão sobre a UNGASS 2016, sobre o tema drogas. A professora Joanne Csete, de Columbia, falou inicialmente. Uma sessão de setembro de 2015 produzirá uma resolução. Há a possibilidade de introduzir diretrizes de Direitos Humanos para UDI. Todos os países enviarão uma delegação: sugeriu que se insistisse em que a delegação tivesse pessoas de saúde e de redução de danos.

A seguir falou Michel Kazatchkine e perguntou como a comunidade de aids poderia ajudar. Citou Kofi Annan: “as drogas destruíram muitas vidas mas muitas políticas governamentais destruíram muitas mais”. A guerra à drogas é um fator que aumenta as epidemias de HIV e de hepatite C. O encarceramento é um fator de risco para adquirir HIV, HepC, TB e TB multirresistente. Sugeriu adotar o Lema: “Ponham a saúde das pessoas e a segurança em primeiro lugar”.

É necessário transitar do enfoque punitivo para passar a intervenções sociais baseadas na saúde. Estimular os programas de troca de seringas, locais de uso seguro e reduzir o dano associado com o uso de drogas. Foi observado que os locais de uso seguro impedem a partilha de seringas, sendo assim um método de prevenção.

Relatou a experiência da Romênia: quando esta juntou-se à União Europeia, houve uma diminuição drástica da colaboração externa. Em particular para políticas para UDI; assim verificou-se um aumento importante da incidência do HIV entre UDI: 6,7% em 2010, 42,6% em 2011, e 58,6% em 2012.

Ponto importante: terminar com a criminalização e encarceramento de pessoas que usam drogas!

O orador seguinte foi Dan Werb (EUA): Ele disse que a política de drogas deveria ser baseada em evidências não em ideologias. Lembrou que o uso recreativo da maconha está avançando nos EUA e há diminuição da repressão: em Washington houve 5531 detenções relacionadas em 2012; e somente 120 em 2013. Afirmou que apesar do aumento das apreensões de carregamentos, os preços caem na Europa e EUA, e a pureza melhora tanto para a maconha como para a cocaína.

A política de guerra às drogas produziu mais de 100.000 mortos no México no governo Calderón, saindo os cartéis mais fortalecidos. Falou também que os cientistas têm um papel importante porque há muita contrainformação sendo apresentada como ciência.

Doravirina

O Dr. José Gatell, da Universidade de Barcelona, divulgou os resultados mais recentes de um estudo ainda em curso que compara a doravirina (um novo ITRNN, inibidor de transcriptase reversa não análogo de nucleosídeosa) e o efavirenz, em pessoas em início de TAR. As taxas de resposta ao tratamento foram comparáveis nos dois grupos, mas os participantes sob doravirina tinham metade da probabilidade de interromper o tratamento, quando comparados com aqueles que se encontravam sob efavirenz. A diferença devia-se sobretudo a uma maior taxa de interrupção da TAR devida aos eventos adversos do efavirenz.

O efavirenz tem sido bastante usado, mas muitas vezes causa efeitos secundários no sistema nervoso central (SNC), como tonturas e sonhos vívidos. Como tal, já não é recomendado para pessoas em início de TAR nas orientações para o tratamento nos EUA e Europa.

A seguir, alguns trabalhos importantes do relato dos rapporteurs de cada Track:

  1. Dinheiro para permanecer na escola não reduz a incidência do HIV em estudo Sul-Africano, mas frequentar a escola protegeu jovens mulheres da infecção;
  2. Incentivos financeiros promovem adesão à circuncisão masculina e a serviços de prevenção da transmissão mãe-filho.

 

(*) Jorge Beloqui participou da 8ª Conferência da IAS sobre Patogênese, Tratamento e Prevenção do HIV, em Vancouver, no Canadá, representando as redes de PVHA brasileiras, a convite do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

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