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17/10/2023

Encontro da RNP+ Brasil: Ativistas dizem que viver com HIV e ter qualidade vida é ter acesso a medicamentos menos tóxicos

Qual política de aids teremos na reconstrução do Brasil? Foi com este questionamento que a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+Brasil) abriu o segundo dia de discussões do seu 9º Encontro Nacional, que acontece em Fortaleza, no Ceará.

Os quase 100 participantes ouviram atentamente o governo, que nesta mesa foi representado pelo infectologista Ronaldo Hallal, assessor técnico do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi); Ariadne Ribeiro, Oficial de Igualdades e Direitos do Unaids Brasil; e os ativistas Moysés Toniolo, do Conselho Nacional de Saúde, e Vanessa Campos, representante da RNP+Brasil no GT Unaids.

Dr. Ronaldo garantiu que faz parte da reconstrução do Brasil dar visibilidade para aids, um exemplo, segundo ele, foi trazer novamente a palavra aids para o nome oficial do Departamento. “Uma das prioridades do cuidado e tratamento das pessoas vivendo com HIV/aids é reduzir a mortalidade e o diagnóstico tardio. Para isso, temos que promover direitos humanos e combater estigmas e desigualdades sociais. Temos que ampliar o diagnóstico e o início oportuno da terapia antirretroviral”, afirmou, acrescentando que qualificar informações estratégicas e estabelecer uma política baseada em evidências científicas resulta em qualidade de vida das pessoas HIV+.

“Não queremos só carga viral indetectável, queremos qualidade de vida. Não é possível organizar uma resposta contra a aids sem planejamento. A sociedade civil faz parte do planejamento estratégico do Dathi. Neste momento, o que estamos tentando fazer é recuperar a lacuna dos últimos anos. Eu acredito nas metas da ONU para acabar com a aids como problema de saúde pública, mas é preciso acrescentar a meta que aborda a qualidade de vida desta população.”

O gestor falou ainda sobre qualidade do tratamento, relembrando que o atual governo atualizou recentemente o Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas. “Temos mais de um milhão de pessoas vivendo com HIV no Brasil, 90% já receberam o diagnóstico, dessas, 82% estão em tratamento antirretroviral e 95% das que tomam os medicamentos têm supressão viral. Ou seja, existe uma epidemia de aids e precisamos de uma resposta que dê conta. Há diversas pessoas com perda de seguimento, temos quase 500 que precisam de terapia de substituição, sem falar das comorbidades e toxicidade. Já temos no mundo novos medicamentos, mas precisamos pensar a política de acesso de forma sustentável, com preço justo. Temos feito algumas discussões com a participação da sociedade civil.”

Qual política o movimento de aids quer?

Assim como dr. Ronaldo, Ariadne Ribeiro concordou que é preciso lutar contra os preços abusivos da indústria farmacêutica. Sobre o tema da mesa, ela criticou os impedimentos de narrativas e disse que “a nossa responsabilidade é não pensar como manada. A sociedade civil é quem decide que política de aids queremos, espero que seja sensível a todas as vulnerabilidades. Temos que compreender a Política de Aids como uma política que vai influenciar as políticas econômicas e sociais vigentes.”

Ariadne continua: “No Brasil, a tendência crescente de mortalidade por aids é maior nas regiões norte e nordeste. Não podemos deixar ninguém para trás.  3 em cada 10 mulheres trans no Brasil vivem com HIV, 18% dos homens que fazem sexo com homens também vivem com HIV, sem falar nas trabalhadoras sexuais e nos usuários de drogas injetáveis, com mais de 5%. Os jovens negros e negras representam a maior parte das novas infecções de HIV no Brasil e também quase 60% dos óbitos por aids. Os povos indígenas apresentam a maior taxa de abandono de tratamento antirretroviral e chegam tardiamente no serviço de saúde. Será que estamos todos atentos? A violência baseada em gênero existe.”

Resistência e fortalecimento

Sobrou para os representantes da sociedade civil responderem qual política de aids eles esperam, a partir da reconstrução do Brasil. “A gente espera que este governo reconstrua mesmo as coisas, fomos muito perseguidos nos últimos anos. Nós não somos despesas, precisamos de uma política de incentivo as ações da sociedade civil que funcione na ponta. A verba carimbada para a aids existe, os Estados e municípios que recebem o dinheiro fundo a fundo precisam nos dizer onde estão investindo, uma parte deste recurso é destinado ao apoio as ações da sociedade civil. A gente não pede favor, é direito nosso exigir a verba”, assegurou Moysés.

O ativista convocou os militantes a continuar incidindo politicamente nas bases. “Temos que cobrar sempre, fazer controle social, conhecer a portarias. No relatório anual de gestão, por exemplo, os municípios dizem no que vão investir. Temos que ter acesso a todos estes documentos.”

Na avaliação da ativista Vanessa Campos, “a qualidade de vida pautada em direitos humanos precisa ser a prerrogativa do nosso tratamento e da política de aids no Brasil, precisamos tirar do discurso e colocar em prática estratégias para que isso realmente possa caminhar em uma realidade concreta.”

Vanessa chamou atenção do grupo para a quantidade de pessoas vivendo com HIV que apresentam multirresistência ao tratamento. “Vamos deixar essas pessoas para trás? Sem um protocolo de genotipagem não sabemos nem quantas são. Vivo com HIV há 33 anos, uma hora o medicamento pode falhar para mim também. Acredito que a quebra de patentes é o caminho de acesso a drogas mais potentes.”

Sobre perda de seguimento, a ativista quis saber por qual motivo os serviços de saúde abandonam os pacientes. Para ela, não há qualidade de vida para pessoas vivendo com HIV sem acesso a vacinas. “Até hoje não ficou claro o motivo pelo qual a vacina de HPV está disponível apenas para pessoas com HIV de até 45 anos. Eu queria tomar e não tive acesso. Agora tenho acesso, mas não tenho idade. Queremos também ter acesso a vacina que protege contra a herpes-zóster.”

Vanessa encerrou sua fala chamando atenção para a importância da comunicação na luta contra a aids e a favor da vida. “Se a gente quer uma política de aids pautada nos direitos humanos, a gente precisa de campanhas de massa falando que indetectável é igual a zero transmissão do HIV.”

Por mais de três horas os ativistas se debruçaram sobre o tema da mesa, com propostas que serão incluídas no documento final do encontro. Teve gente que falou na criação de um protocolo de HIV com foco em saúde mental, outros chamaram atenção para as especificidades do envelhecer vivendo com HIV, alguns disseram que a política de aids precisa ser transversal. Vando de Oliveira, representante da RNP+Brasil, criticou a ausência dos representantes da Frente Parlamentar de Aids, no Congresso Nacional, e do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde.

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista 

RNP+Brasil

E-mail: comunica@rnpvha.org.br

Fonte: Agência de Notícias da Aids

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